A
LÓGICA DA ESCOLA
Como
se instituiu a atual forma da escola? Para compreendermos isso e
também apreendermos o papel que a avaliação passou a ter na
escola, é fundamental entendermos o processo histórico de
distanciamento da escola em relação à vida, em relação à
prática social. Esse afastamento foi ditado por uma necessidade
ligada à formação social capitalista, a qual, para apoiar o
desenvolvimento das forças produtivas, necessitou de uma escola que
preparasse rapidamente, e em série, recursos humanos para alimentar
a produção de forma hierarquizada e fragmentada – e isso só era
possível ser feito de forma escolarizada.
Foi
exatamente esse afastamento da vida real que levou aos processos de
aprendizagem propedêuticos e artificiais, necessários para
facilitar a aceleração dos tempos de preparação dos alunos. Todos
sabemos que ensinar de uma maneira tradicional – verbal e por série
– é mais rápido do que por métodos ativos que exijam a
participação do aluno. As necessidades de preparação de mão de
obra do capitalismo forçaram o aparecimento da instituição escola
na forma atual. O conhecimento for partido em disciplinas,
distribuído por anos e os anos foram subdivididos em partes menores
que servem para controlar uma certa velocidade de aprendizagem do
conhecimento. Convencionou-se que uma certa quantidade de
conhecimento devia ser dominada pelos alunos dentro de um determinado
tempo. Processos de verificação pontuais indicam se houve ou não
domínio do conhecimento. Quem domina avança e quem não aprende
repete o ano (ou sai da escola).
A
necessidade de introduzir mecanismos artificiais de avaliação
(provas, testes etc.) foi motivada pelo fato de a vida ter ficado do
lado de fora da escola. Com isso, ficaram lá também os “motivadores
naturais” para a aprendizagem, obrigando a escola a lançar mão de
“motivadores artificiais” - foi desenvolvido um sistema de
avaliação com notas como forma de estimular a aprendizagem e de
controlar o comportamento de contingentes cada vez maiores de
crianças que acudiam à escolar e tinham de ficar dentro dela,
imobilizadas, ouvindo o professor. O isolamento e o artificialismo da
escola levaram a uma avaliação igualmente artificial.
Os
processos de avaliação tomam o lugar dos motivadores naturais e
passam a ser a principal ancoragem, além da pressão familiar, para
produzir a motivação para o estudo. Como na escola
aprendem-se/ensinam-se relações, a avaliação assume a forma de
uma “mercadoria” com as características de dualidade existentes
na sociedade capitalista: valor de uso e valor de troca, com
predomínio do último sobre o primeiro. “Aprender para trocar por
nota.”
O
aluno é cada vez mais conformado a ver a aprendizagem como algo que
só tem valor a partir da nota (ou aprovação social), que lhe é
externa, e a troca pela nota assume o lugar da importância do
próprio conhecimento como construção pessoal e poder de
interferência no mundo. O processo de avaliação adquire
centralidade na escola, porque faz parte da gênese do aparecimento
da forma escolar – separada da vida.
É
comum os alunos indagarem para que serve a o que estão aprendendo.
Professores têm de se desdobrar para conseguir motivar os alunos.
Tudo isso porque a escola é vista como preparação para a vida, e
não como a própria vida. Isolados em salas de aula, assistem das
janelas da escola à vida passar. Estão “Enclausurados”, à
espera de poder viver quando chegar a hora. O saber é passado
verbalmente ou por meio de livros ou materiais impressos – são
impedidos de aprender com a natureza e com a sociedade. Tal é o
isolamento e a artificialização a que são submetidos os alunos.
Entretanto, a sala de aula é uma construção histórica com
finalidades claras de aprendizagem de determinadas relações sociais
vigentes na sociedade que a cerca.
Não
foi o professor quem inventou essa lógica: ela faz parte da própria
gênese da escola. Não é apenas uma questão de sistema seriado ou
não: trata-se de uma concepção de como se organiza todo o trabalho
pedagógico, as relações de produção de conhecimento e de poder,
em que a existência de séries é apenas mais um elemento, e não o
único. Essa lógica escolar é tão comum e corrente, que é dada
como certa, sem questionamento – o professor não tem poder para
mudá-la, é obrigado a trabalhar supondo-a.
Adaptado
do livro Ciclos, seriação e avaliação - confronto de lógicas.
Luiz
Carlos de Freitas.
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