por um mundo de paz

pensando bem, fabricantes de armas desejam o tempo todo um mundo inseguro. Fabricantes de remédios nos desejam doentes.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Metodologia do Ensino de História


MINHA METODOLOGIA
DE ENSINO
Entendendo a História como ciência que encaminha a escolha entre diversas possibilidades, sua metodologia de ensino servirá de guia para que o aluno se prepare para esta escolha. Deverá ela auxiliar o educando a selecionar entre todas aquelas possibilidades de que podemos lançar mão, de uma maneira mais científica e racional, para que se alcancem os fins maiores, primordiais, ou seja, os objetivos, as metas.
O método deve facilitar o difícil caminho do aprendizado, tornando-o suave, ameno. O aluno deve sentir-se predisposto a aprender, motivado a conhecer o tempo histórico, desprendendo-o do tempo cronológico. Valores éticos, como solidariedade, respeito às diferenças e generosidade facilitam a construção do coletivo, a equipe. Para construir o trabalho em equipe é necessário ter em mente que se aprende fazendo, experimentando, participando e o conteúdo pode representar a motivação, ao despertar o interesse dos participantes. Método é prática.
Minha proposta tem como objetivo “colocar a História no campo da política”. Nessa perspectiva, ela vai ao encontro dos princípios e dos objetivos do Ensino Médio, expressos na LDB e relacionado à preparação para a cidadania e ao desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. A problematização do presente é articulada aos subsídios obtidos com o estudo dos processos históricos, para compreensão dos conceitos. Isso possibilita a incorporação e a ressignificação dos saberes prévios dos alunos.
Elegi os conceitos como eixos das unidades e os apresento como uma construção cuja história se pretende examinar. Pensei os eixos conceituais como moduladores da perspectiva cronológica, os quais cumprem também a função de instrumentos na estratégia de relacionar temas do passado com o cotidiano vivido. Os processos econômicos, sociais e políticos são desnaturalizados, o que possibilita sua interpretação em perspectiva renovada e crítica. A contextualização e a interdisciplinaridade constituem eixos dessa abordagem metodológica e serão desenvolvidas, principalmente, por meio de atividades ampliadas por sugestões de leituras adicionais, sites e filmes. Os conteúdos de História do Brasil estão interligados aos de História Geral e estão articulados aos de outras disciplinas escolares com propostas de pesquisas que envolvem conhecimentos de Literatura, Química, Biologia, Geografia etc. Uso uma linguagem adequada ao nosso alunado, mas incorporo, gradativamente, termos mais difíceis com a devida explicação.
Proponho atividades criativas para auxiliar na realização dos objetivos propostos, estimulo a capacidade de produzir textos que, frequentemente, contribuem para a interação entre os alunos, possibilitando também o desenvolvimento de habilidades, como comparação, interpretação, formulação de hipóteses, análise e síntese.
A principal preocupação do curso diz respeito à metodologia da História. Discuto a construção do saber histórico. Busco estabelecer a diferença entre processo histórico – resultado das relações entre grupos e sujeitos históricos – e a História – busca de inteligibilidade para esse processo. Contrasto diferentes interpretações, evidenciando o caráter sempre parcial e provisório do conhecimento histórico, inevitavelmente atravessado pela subjetividade do historiador. Faço uso de fontes escritas de natureza variada (textos legais, cartas, relatos de viajantes, material de imprensa, trechos de romances, poesias, letras de música, grafites), demonstrando ao aluno que o processo histórico pode ser flagrado a partir de registros os mais diversos possíveis, que nunca são neutros. Valho me também de variedade de fotografias, charges, histórias em quadrinhos, pinturas, gravuras. Concedo grande destaque ao cinema, sugerindo excelentes filmes, tanto nacionais quanto estrangeiros, observando a necessidade de submetê-los à crítica histórica, uma vez que são configurados como um discurso sobre a realidade, passada ou presente, que se pretende compreender.
O que domina meu método é a perspectiva processual. Adoto uma organização cronológica, mas não valorizo datas e nomes, ao contrário, procuro desconstruir mitos e heróis, valorizo sujeitos coletivos e os embates entre seus interesses e projetos e adoto o conceito de classe social de matriz marxista.
Valorizo abordagens, temas e objetos como a história do cotidiano, do consumo, das mulheres, das crianças, concedendo ênfase especial aos setores desprivilegiados, cuja resistência à dominação será apresentada nas suas múltiplas possibilidades expressivas. Revoltas propriamente ditas, como Canudos, Contestado, a Revolta da Chibata, a Revolta da Vacina, associadas às formas de resistência nem sempre reconhecidas como tal, como é o caso de manifestações culturais como festas, músicas etc. Incluo aspectos simbólicos, relacionados à construção de identidades e projetos de diferentes grupos, evitando que os processos sejam trabalhados por um viés exclusivamente econômico ou político-institucional. O aluno perceberá que as relações sociais se encontram atravessadas por relações de poder, que extrapolam em muito o campo da política stricto sensu. Observará as relações de poder tanto no universo público como no privado e verá as múltiplas estratégias de controle e coerção. Destacarei o trabalho com o conceito de cultura.
Concedo espaço maior para a História de regiões e povos que, em geral, recebem pouca atenção nos livros didáticos, como hindus, persas, fenícios, chineses, hebreus e, atendendo ao disposto na legislação, à História da África, reforçando os novos olhares lançados à História da escravidão e das relações raciais nas Américas, no passado e presente. Tenho grande preocupação em fornecer informações e problematizar episódios recentes, perseguindo objetivo de revelar as conexões entre passado e presente e apontar permanências e rupturas. Procuro, igualmente, apresentar ao aluno processos em curso em outros espaços geográficos, distintos daquele que está sendo tratado no momento, chamando a atenção para a integração e o descompasso entre processos históricos nos planos nacional e global.
Optei por tomar a História como instrumento de politização, fazendo da construção da cidadania uma questão central. Enfatizo a capacitação do aluno para pensar criticamente a realidade, posicionar-se e, consequentemente, atuar e assumir seus direitos e responsabilidades. Na História do Brasil, defendo o princípio multicultural traduzido na atenção concedida à História dos afros descendentes e à dos povos indígenas, o que contribui para apresentá-los como sujeitos históricos autônomos e para legitimar suas demandas por identidade própria. A intolerância e o fundamentalismo de cunho religioso são criticados sempre.
Outra importante estratégia metodológica serão as visitas a museus. Fundamental para que o aluno se familiarize cada vez mais com ambientes próprios ao trabalho do historiador e para que ele conscientize-se da necessidade de se preservar o patrimônio cultural e histórico de uma sociedade.
Músicas em sala de aula serão momentos propícios ao incremento do repertório artístico-cultural do alunado.
Segue uma lista sucinta das estratégias metodológicas e dos recursos materiais que serão utilizados em todo o Ensino Médio nas aulas de História:
  • Aulas expositivas dialogadas
  • Leitura e interpretação de textos diversos
  • Observação e análise de fotografias, mapas, documentos escritos (escrituras, atas, cartas, relatórios, certidões etc.).
  • Debates
  • Seminários temáticos
  • Aulas de campo em museus

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A manipulação da verdade


Dom Eugênio Sales era, com todo o respeito, o cardeal da ditadura

Ribamar Bessa Freire, via Portal Terra
O tratamento que a mídia deu à morte do cardeal dom Eugênio Sales, ocorrida na segunda-feira, dia 9, com direito à pomba branca no velório, me fez lembrar o filme alemão Uma cidade sem passado, de 1990, dirigido por Michael Verhoven. Os dois casos são exemplos típicos de como o poder manipula as versões sobre a história, promove o esquecimento de fatos vergonhosos, inventa despudoradamente novas lembranças e usa a memória, assim construída, como um instrumento de controle e coerção.
Comecemos pelo filme, que se baseia em fatos históricos. Na década de 1980, o Ministério da Educação da Alemanha realiza um concurso de redação escolar, de âmbito nacional, cujo tema é “Minha cidade natal na época do 3º Reich”. Milhares de estudantes se inscrevem, entre eles a jovem Sônia Rosenberger, que busca reconstituir a história de sua cidade, Pfilzing – como é denominada no filme –, considerada até então baluarte da resistência antinazista.
Mas a estudante encontra oposição. As instituições locais de memória – o arquivo municipal, a biblioteca, a igreja e até mesmo o jornal Pfilzinger Morgen – fecham-lhe suas portas, apresentando desculpas esfarrapadas. Ninguém quer que uma “judia e comunista” futuque o passado. Sônia, porém, não desiste. Corre atrás. Busca os documentos orais. Entrevista pessoas próximas, familiares, vizinhos, que sobreviveram ao nazismo. As lembranças, contudo, são fragmentadas, descosturadas, não passam de fiapos sem sentido.
A jovem pesquisadora procura, então, as autoridades locais, que se recusam a falar e ainda consideram sua insistência como uma ameaça à manutenção da memória oficial, que é a garantia da ordem vigente. Por não ter acesso aos documentos, Sônia perde os prazos do concurso. Desconfiada, porém, de que debaixo daquele angu tinha caroço – perdão, de que sob aquele chucrute havia salsicha – resolve continuar pesquisando por conta própria, mesmo depois de formada, casada e com filhos, numa batalha desigual que durou alguns anos.
Hostilizada pelo poder civil e religioso, Sônia recorre ao Judiciário e entra com uma ação na qual reivindica o direito à informação. Ganha o processo e, finalmente, consegue ingressar nos arquivos. Foi aí, no meio da papelada, que ela descobriu, horrorizada, as razões da cortina de silêncio: sua cidade, longe de ter sido um bastião da resistência ao nazismo, havia sediado um campo de concentração. Lá, os nazistas prenderam, torturaram e mataram muita gente, com a cumplicidade ou a omissão de moradores, que tentaram, depois, apagar essa mancha vergonhosa da memória, for jando um passado que nunca existiu.
Os documentos registraram inclusive a prisão de um judeu, denunciado na época por dois padres, que no momento da pesquisa continuavam ainda vivos, vivíssimos, tentando impedir o acesso de Sônia aos registros. No entanto, o mais doloroso era que aqueles que, ontem, haviam sido carrascos, cúmplices da opressão, posavam, hoje, como heróis da resistência e parceiros da liberdade. Quanto escárnio! Os safados haviam invertido os papéis. Por isso, ocultavam os documentos.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Consumismo nosso de cada dia

IMPERIALISMO E CRISE SOCIOAMBIENTAL
Maurício Broinizi Pereira
professor de história contemporânea e coordenador do programa de pós-graduação em história da puc-sp

Os principais acontecimentos políticos do final do século passado e a reificação do processo de aceleração das transformações tecnológicas em curso, entre outras questões, criaram a ilusão da inexorabilidade e imperiosidade do capitalismo como o único sistema econômico-social viável para a humanidade. A globalização e o neoliberalismo, instrumentos do processo de mundialização do capital, foram alçados à condição de únicas receitas eficazes para alavancar o crescimento econômico mundial e, em particular, o dos países enredados nas mazelas da pobreza.
A movimentação de capital, sem dúvida, foi intensa: mega transações, megafusões, mega especulações, incorporações avassaladoras de significativas porções do Leste Europeu e da China no percurso dos investimentos e da reprodução e acumulação de capital, além da intensificação do desenvolvimento capitalista em grande parte do Sudeste Asiático. Enquanto isso, após a recessão dos anos de 1991 a 1993, os Estados Unidos experimentaram, até 2000, um enorme boom econômico, recuperando níveis altíssimos de investimento, emprego e produtividade — e também de especulação na chamada Nova Economia, como retratavam os índices Nasdaq de ações de empresas de tecnologia —, colhendo uma porção significativa dos frutos da ampla abertura econômica que marcou a década passada.
O empenho da Era Clinton por manter o boom econômico era tamanho que, além de manter todas as pressões sistêmicas para que grande parte dos países aprofundassem a política de open door, o presidente assumia pessoalmente o papel de lobista mundial de grandes projetos e empreendimentos de interesse de empresas norte-americanas, chegando a tomar para si, por diversas vezes, a patética missão de tentar convencer o governo e o povo japonês de que eles deveriam consumir bem mais e poupar muito menos, dado o reconhecido alto nível de poupança per capita existente no Japão e o moderado padrão de consumo de grande parte de sua população.
A receita dos anos de 1990, ainda que bem simplificada, pode ser resumida em desregulamentação, portas abertas, livre mercado, gigantescas e super produtivas empresas, consumo, muito consumo, acumulação, ampla liberdade de aplicações e especulações globalizadas, mais alguma acumulação etc., com, obviamente, a devida proteção ao poder político e militar das potências gerentes do sistema, particularmente o da superpotência imperial norte-americana, incluindo todo o poder simbólico que ela representa para o mundo como sociedade opulenta, de consumo abundante e vencedora.
O império do consumo
É importante refletir sobre o papel simbólico que os Estados Unidos representam, principalmente porque o estilo de vida norte-americano, os seus produtos, valores e promessas, amplamente difundidos pelo poder de sua indústria cultural e de suas propagandas, veiculadas intensamente por todas as novas tecnologias de comunicação, passaram a habitar, na última década, o imaginário de mais alguns bilhões de pessoas expostas ao processo de mundialização do capitalismo. É claro que tal processo não começou nos anos de 1990, mas o fim da União Soviética, a globalização e a consistente transformação capitalista das economias chinesa e indiana multiplicaram as condições de reprodução da sociedade pautada no consumismo.
Pelo menos desde os anos de 1940, a sociedade de consumo de massa passou a ser não só o ideal mas também a realidade de grande parte dos norte-americanos.
“No começo da era que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, um consultor de vendas americano chamado Victor Lebow declarou:
´A nossa economia enormemente produtiva... requer que nós façamos do consumo o nosso modo de vida, que nós convertamos a compra e o uso de mercadorias em rituais... que nós busquemos a nossa satisfação espiritual ou do nosso ego no consumo... nós precisamos de coisas consumidas, destruídas, gastas, substituídas e descartadas numa taxa continuamente crescente´.”1

E nada foi tão plenamente realizado na sociedade norte-americana quanto esta inflexão de sessenta anos atrás.
Vale a pena refletir sobre alguns efeitos globais deste estilo de vida e padrão de consumo. Contando, em média, com um automóvel para cada dois habitantes, ou seja, com uma frota de aproximadamente 150 milhões de carros, os EUA – que têm menos de 5% da população mundial – consomem 26% do petróleo, 25% do carvão e 27% do gás natural do planeta, segundo dados divulgados em 2004 pelo Worldwatch Institute, uma fundação com trinta anos de experiência em pesquisa e processamento de dados sobre o “estado do planeta”. Em consequência, os EUA são responsáveis por cerca de 27% das emissões globais de CO2. O dióxido de carbono, o qual é o resultado da queima daqueles combustíveis fósseis, é o principal poluente da atmosfera e o grande responsável pelo processo de aquecimento global em curso.
Por outro lado, o governo Bush vem, sistematicamente, negando-se a reconhecer qualquer evidência de mudança climática, recusando-se a assinar o protocolo de Kioto, ainda que este seja uma tímida iniciativa para a redução da emissão de poluentes. Para um presidente com estreitas ligações com o complexo industrial militar e com o setor petrolífero norte-americanos, deve ser difícil aceitar que conste da sua agenda qualquer preocupação com os efeitos perversos, ainda que sejam fatais, da “civilização do bem”. Não bastassem seus comprometimentos evidentes, Bush foi acusado por sessenta cientistas norte-americanos, entre os quais doze são prêmios Nobel, de distorcer pesquisas científicas, incluindo as das mudanças climáticas, segundo seus interesses políticos, assim como distorceu os relatórios sobre o Iraque para poder fazer a guerra.
Este é apenas um exemplo das consequências ambientais globais de uma sociedade de consumo de massa que representa 5% da população do planeta. No entanto, esta sociedade tornou-se referência para outras tantas, objeto do desejo de milhões e milhões de consumidores potenciais, principalmente de economias emergentes que apenas começam a reproduzir o estilo de vida norte-americano. O exemplo mais significativo vem da China, onde apenas 20% de sua população começa a figurar com alto poder de consumo, porcentagem que equivale a toda a população consumidora norte-americana. Segundo dados que vem sendo divulgados pela imprensa, os chineses vem incorporando 11 mil novos carros por dia nas ruas de suas cidades, totalizando aproximadamente 15 milhões de automóveis particulares.
Esta nova situação levou o continente asiático à condição de maior produtor mundial de veículos, onde a China é o mercado que mais cresce. Se estas tendências forem mantidas, em poucos anos teremos na China uma frota de automóveis próxima à já existente nos EUA. Pode-se aplicar esta mesma linha de raciocínio para países como a Índia, Indonésia, Rússia e Brasil, onde mais da metade de suas grandes populações ainda não ingressaram na condição de consumidores de automóveis. No Brasil, a tendência é explícita, pois a industria automobilística, tanto para exportação quanto para consumo interno, parece continuar sendo considerada um dos principais agentes responsáveis por incrementar o crescimento econômico, dados os contínuos incentivos do governo Lula para o setor.
Em face da estrutura produtiva em que parte significativa do sistema está assentado, do conjunto de interesses que giram em torno da indústria automobilística e petrolífera, e da ideologia dominante e geradora de desejos de consumo, parece que o eco cínico em torno de Bush continuará tendo muitos adeptos, sustentado pela racionalidade/crença ocidental de que a tecnologia trará soluções para tudo, talvez até para a inexistência de recursos naturais que possam sustentar o atual paradigma produtivista/consumista. Tal paradigma continua, ainda que esteja em ampliação para novas áreas do planeta, realizando a circulação de mercadorias para muito poucos, já que mais de dois terços da humanidade continua sobrevivendo entre condições de miséria e pobreza. Concluída mais de uma década de globalização e neoliberalismo, uma enxurrada de dados divulgados recentemente por organizações multilaterais do próprio sistema, tais como ONU, OIT, Banco Mundial e o próprio FMI, apontam para a insustentabilidade socioeconômica e ética deste processo, que gerou mais concentração de renda entre os países ricos e para as classes mais abastadas em todo o planeta, aprofundando a desigualdade social e o desastre ambiental.

Nota
1 Durning, Alan, in Qualidade de Vida, 1991. Worldwatch Institute. São Paulo, Globo, 1991, p.205.
Texto retirado do sítio da Revista PUCVIVA
http://www.apropucsp.org.br/revista/r20_r04.htm